A importância dos COMPOSTOS ou COMPOSTADOS ORGÂNICOS em AGRICULTURA
António Pedro Tavares Guerra
Licenciado em Engenharia Agropecuária e Engenheiro Técnico Agrário, especializado na área da Fertilização e Nutrição das Plantas.
Foi quadro técnico do Ministério de Agricultura /DRAPN, tendo elaborado diversas fichas técnicas e artigos de divulgação sobre o tema da Fertilização e Nutrição das Plantas.
Trabalhou em várias empresas ligadas à Nutrição e Protecção das culturas (Rhône Poulenc Agro, Samabiol e Sapec Agro.).
Realizou e realiza palestras sobre o tema, quer a nível de associacções de agricultores, quer a nível de outras entidades estatais e privadas.
É colaborador em algumas revistas técnicas de agricultura (Agrotec e Voz do Campo).
É actualmente formador e consultor nas áreas da Nutrição e Fertilização das culturas (Vinha, Olival e Limoeiro)
Cada vez mais temáticas como a conservação do solo vêm sido discutidas, uma vez que os solos estão cada vez mais empobrecidos muito por consequência das más práticas agrícolas. Na sua opinião que práticas agrícolas podem ser implementadas para conseguir reverter a degradação dos solos?
A Conservação do Solo, pode ser definida, como uma medida de utilizar e trabalhar o solo, no sentido de aumentar a produtividade, mantendo a sua fertilidade física, química e biológica.
Os solos fazem parte de um património muito valioso, que devemos conservar e proteger, de modo a prevenir os efeitos erosivos, a compactação e a própria poluição dos mesmos.
Já em 1862, Frederich Albert Fallou escreveu:
- Na Natureza não há nada tão importante como o solo, e por isso merece-nos toda a atenção.
- O solo é a base essencial da nossa existência, que alimenta e abastece toda a natureza.
Uma das estratégias e práticas de conservação do solo, é aumentar o teor de matéria orgânica e a sua actividade biológica.
Por isso é importante manter e aumentar a matéria orgânica do solo, com diferentes práticas, tais como:
– Controlar as perdas de matéria orgânica, diminuindo a taxa de mineralização da mesma, com o mínimo de mobilizações do solo;
– Fomentar os cobertos vegetais do solo e aproveitar os resíduos das culturas anteriores;
– E por fim, aplicar compostados em boas condições de utilização.
Importância dos Corretivos e Compostos Orgânicos na Conservação dos Solos
Qual a importância da aplicação de corretivos agrícolas orgânicos ao solo?
A importância da aplicação dos correctivos orgânicos ao solo deve ter como objectivo, a gestão da matéria orgânica do solo, no sentido de compensar um possível défice deste parâmetro e, por conseguinte, melhorar:
A) as propriedades físicas do solo:
- Melhoram a textura do solo, aumentando a capacidade de retenção da água utilizável pelas plantas;
- Melhoram a estrutura do solo e assim vamos ter uma maior porosidade e um melhor desenvolvimento radicular;
- E diminuem a compactação do solo, no sentido de facilitar os processos biológicos do solo.
B) as propriedades químicas do solo:
- Podem ser importantes no sequestro do Carbono no solo;
- jogam um papel importante na formação do complexo argilo-húmico;
- e contribuem para o aumento da capacidade de troca catiónica.
C) as propriedades biológicas do solo:
- Aumentam a população microbiana do solo;
- e incrementam uma maior actividade biológica, do qual resulta uma maior acção dos microrganismos nos processos de transformação, que incidem numa melhor disponibilidade dos nutrientes para as plantas.
Quais os benefícios da sua incorporação para as plantas e para o solo?
Em termos de solo, os principais benefícios da aplicação de Correctivos Orgânicos são os seguintes:
- Melhoria da estrutura do solo;
- Aumento da capacidade de troca catiónica do solo;
- Melhoria da vida microbiana do solo;
- Melhoria das condições de absorção dos nutrientes pela planta;
- Redução da disponibilidade de alguns metais pesados (toxicidade);
- Melhoria da Fertilidade e da Produtividade dos solos
Em termos de plantas, os principais benefícios da aplicação de Correctivos Orgânicos são os seguintes:
Uma fonte importante de nutrientes para as plantas, quer a nível de macronutrientes, quer a nível micronutrientes, resultantes do processo da mineralização, que é o mecanismo mais importante para fornecer às plantas nutrientes como o azoto, o fósforo, o enxofre e a maioria dos micronutrientes.
Em que medida pode a utilização destes fatores de produção ter impacto no meio ambiente?
Os fertilizantes orgânicos reduzindo a utilização dos fertilizantes químicos vão desde já preservar a integridade do meio ambiente.
Por um lado, contribuindo para o sequestro do carbono orgânico, vão ajudar na mitigação da agricultura contra as alterações climáticas.
Por outro lado, sendo importante no aproveitamento da água disponível, quer pela redução da evaporação à superfície do solo, quer permitindo uma melhor infiltração e armazenamento, tornando o solo mais resistentes à seca e às inundações.
Poderá a aplicação dos corretivos agrícolas orgânicos diminuir ou mesmo anular a adubação química?
Ao aplicarmos ao solo os compostos orgânicos, e através da mineralização da matéria orgânica estamos a fornecer nutrientes ao solo, tanto macro, como micronutrientes, que por sua vez alimentamos a planta.
A aplicação de compostos orgânicos pode compensar alguns efeitos negativos dos agrosistemas intensivos, com adubos químicos, ao melhorar a biomassa microbiana do solo.
Já a adubação química, de acção mais rápida, alimenta a cultura sem melhorar a fertilidade do solo.
Quais os fatores a ter em conta na escolha de um composto orgânico?
É importante na escolha de um composto orgânico seguir os seguintes critérios:
- A % em matéria orgânica;
- A Relação C / N;
- A % de humidade;
- A isenção de agentes patogénicos e infestantes;
- E o teor em metais pesados.
Para que se realize o processo da Mineralização dos Compostos no Solo é necessário ter em consideração os seguintes factores:
- Humidade do solo: nem em condições muito húmidas, nem muito secas;
- Temperatura: entre 10 a 35ºC;
- pH do solo: entre os 5 e os 7.
- Salinidade do solo: os sais em excesso podem afectá-la, especialmente a nitrificação;
- Tipo de solo: mais fácil nos solos ligeiros, do que nos pesados;
- Tipo de composto: conforme a relação C/N.
Este último critério é muito importante, porque define a maturação do compostado, que quando apresenta uma relação C/N superior a 25-30, pode causar problemas às plantas ao diminuir o nível do teor de oxigénio na zona da rizosfera, assim como bloquear o azoto mineral existente no solo.
Quando nos situamos numa relação C/N da ordem dos 12, ao compostado é permitido uma mineralização lenta e gradual dos nutrientes, o qual evita um crescimento vegetativo excessivo das plantas em detrimento da qualidade da produção.
Assim poderíamos afirmar que quando utilizamos compostados de elevada relação C/N promovemos a humificação e com baixa relação C/N promovemos a mineralização.